quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ÉTICA E CIDADANIA EM TEMPO DE EXCLUSÃO SOCIAL DO JOVEM BRASILEIRO

RESUMO

Na contramão do desenvolvimento econômico que o Brasil tem apresentado na última década, observa-se um grande contingente de jovens desempregados e em situação de vulnerabilidade social. Na tentativa de pensar esse paradoxo, este artigo apresenta o trabalho como meio de produção de dignidade, criador de significado humano, e a Educação Profissional como uma possibilidade de acesso qualificado e viável do jovem ao mundo do trabalho contemporâneo. Apontando para mais investimento em políticas públicas com foco na Educação Profissional, de modo a atingir este segmento da população.

Considerando que o reconhecimento da dignidade pode ser através do trabalho a ONU (1948), Organização das Nações Unidas, descreve a importância do trabalho como um dos direitos humanos mais essenciais do ser humano observa-se no artigo vinte e três a seguinte consideração:

“Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social”. (ONU, 1948).

A Declaração Universal foi aprovada pela Assembléia Geral em 10 de dezembro de 1948 com votação de quarenta e oito países com votos a favor, zero contra e oito países com abstenções, os países, Bielo-Rússia, Tchecoslováquia, Polônia, Ucrânia, URSS, Jugoslávia, África do Sul e Arábia Saudita. A Declaração Universal foi traduzida pelo menos para trezentos e setenta e cinco idiomas e dialetos, tornando-se o documento mais traduzido em todo o mundo.

Já passam sessenta e dois anos da sua aprovação, no que se refere ao direito ao trabalho e a livre escolha do emprego a realidade brasileira especificamente do jovem desempregado a declaração está longe de ser respeitada nas terras brasileiras.

Desta forma, para a ONU (2003), Organização das Nações Unidas os jovens formam um universo de 1,2 bilhão de pessoas, 18% da população mundial e estão em risco, 200 milhões vivem com menos de US$ 1 por dia e 88 milhões estão sem emprego. Além disso, são extremamente vulneráveis as transformações sociais do século XXI.

Neste alerta o Brasil não fica distante dos números nem da real exclusão do jovem do mercado de trabalho, embora o país esteja em pleno crescimento econômico e na vitrine mundial com as ótimas notícias do campo da economia, percebe-se claramente que mudanças profundas estão acontecendo no país, como por exemplo: o aumento da exportação, descobrimento de novos poços de petróleo, moeda forte, investimentos na área esportiva para preparação da copa do mundo de 2014 e a Olimpíada do Rio de Janeiro em 2016. O país encontra-se nos holofotes da mídia, mas algo silencioso e preocupante é o desemprego do jovem que cresce na mesma proporção, mas sem tantos investimentos para sanar o problema que já pode ser chamado de crônico.

A delimitação etária utilizada neste artigo da população juvenil, de grande parte dos estudos é a de 16 a 24 anos, que é adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2003).

Os números são assustadores e a situação dos jovens no mercado de trabalho deve ser um desafio permanente para todos os estados da nação, pois o estudo do (IPEA, 2010), aponta que o Brasil terá cerca de 80 milhões de jovens buscando emprego nos próximos dez anos (2010-2020). Percebe-se que o país está na contra mão do progresso, o jovem está às margens da sociedade em situação de vulnerabilidade social e desemprego maciço.

O desemprego assim posto para Baumann (2004), classifica os que não conseguiram permanecer no carro da modernidade e que não conseguem se inserir na globalização, sendo considerados de “refugo humano”.

O desemprego do jovem coloca em risco o desenvolvimento da sociedade, pois força os jovens a retardarem o ingresso no mercado de trabalho e amplia a dependência da família e das políticas públicas. Nos dizeres de Bauman (2004), neste regresso, não existem trilhas óbvias para retornar ao quadro dos integrantes, observa-se que retornar ao mercado de trabalho não será algo simples e sim uma árdua tarefa de um sonho regresso ao mundo dos incluídos.

O país das multi raças e culturas não vêm assegurando o direito pleno de cidadania, condições de acesso ao emprego, bens e serviços, segurança e justiça social. De nada adianta ser um país de fronteiras livres e abertas se não se tem condições de desenvolver políticas púbicas a todos que aqui vivem. Neste processo de inchamento de pessoas é exclusão social é gerada dia a dia tendo desdobramentos específicos nos campos da cultura, da educação, do trabalho, das políticas sociais, da etnia, da identidade e de vários outros setores da sociedade brasileira.

2.2 As causas do desemprego do jovem

Os jovens de 16 a 24 anos estão diante de um enorme sentimento de fracasso que acompanha o jovem que procura trabalho remunerado e não consegue. Isso representa uma porta aberta para a frustração, desânimo e também a possibilidade de inserção ao mundo das drogas e do crime. Os efeitos do desemprego para os jovens são bastante acentuados por esses se encontrarem num momento do ciclo de vida de intensa organização pessoal e social. A depressão, a ansiedade, são situações que o jovem não consegue suportar, pois não está preparado e não projetou em seu inconsciente que seria tão difícil sua inserção no mercado de trabalho.

O fenômeno do desemprego juvenil vem aumentando ano a ano, mas é necessário e prudente entender o fenômeno e traçar alguns pontos que podem servir como linhas norteadoras.

- Exigência de escolaridade por parte das empresas para novas contratações.
- Baixo grau de escolarização e maior vulnerabilidade.
- Aumento do percentual de homens entre 16 e 24 anos fora da escola e sem ocupação.

Um dos pontos que merece ser destacado é o processo de escolarização da maioria desses jovens.

Segundo Schwartzman, (2004).

Se os jovens tivessem acesso ao mesmo tipo de educação e pudessem concluir a educação secundária em igualdade de condições, teríamos uma situação de igualdade de oportunidades, mesmo com um mercado de trabalho restrito. (p. 43).

Para Schwartzman (2004), as condições de acesso educacional são profundamente determinantes na hora do ingresso no mercado de trabalho, pois a qualidade da educação oferecida pelas escolas públicas, que predominam nos níveis fundamental e médio, é extremamente variada, sendo que as melhores escolas são as particulares, só acessíveis a famílias de renda média e alta.

O mercado de trabalho é extremamente seletista, focando no preparo profissional, conhecimentos no ramo de atuação, cultura geral, conhecimento dos mecanismos de produção, desta forma o conhecimento e a educação tornam-se os pilares centrais da nova ordem mundial do trabalho.

O acesso igualitário ao mesmo tipo de educação é algo muito distante na proposta educacional brasileira. A educação básica deveria focar seus esforços em tentar fazer correlação dos conteúdos de formação geral com o mundo do trabalho, buscando uma estreita relação com o mundo externo da escola, de tal modo que as expressões matemáticas sejam ensinadas para a resolução de problemas da vida cotidiana, seja ela pessoal ou relacionada as empresas, como por exemplo, analisar os juros cobrados ao se tomar um empréstimo bancário. Desta forma, a educação básica conduziria o aluno ao desenvolvimento da cidadania e o preparando para o mercado de trabalho.

Para Schwartzman, “a educação é uma atividade para a vida, que ocorre no lar, na praça, na rua, no trabalho e na escola. O papel da escola deve ser o de preparar os estudantes para que eles possam se conectar ao mundo maior, obter as informações que precisam, configurá-las para seu uso próprio e desenvolver seus recursos e competências individuais”. (p.172).

É notável que a educação básica não está conseguindo preparar os jovens para a conexão do mundo do trabalho, tão pouco para o enfretamento dos vestibulares das universidades públicas e privadas, o jovem está a deriva de formação de qualidade, não conseguindo seguir sua caminhada escolar no ensino superior pela forte concorrência e tão pouco ingressar na universidade privada, por falta de condições de preparo acadêmico e/ou condições financeiras.

Por fim, o grande desafio da sociedade moderna é encontrar alternativas que possam garantir cidadania aos que foram expulsos do carro da modernidade, é desafio do governo garantir dignidade articulando projetos que possam resgatar a confiança em seus projetos de vida. Não é possível que o descontrole e a ganância do capitalismo ceife vidas sem piedade. É dever dos governantes, repensarem princípios éticos, repensem uma nova reengenharia da sociedade líquida, diminuindo significativamente o número de pessoas descartadas do capitalismo atual.

Boa semana a todos.
LEANDRO SIEBEN
Twitter:@LeandroSieben

Nenhum comentário:

Postar um comentário