quarta-feira, 4 de julho de 2012

VIDAS desperdiçadas!!

O autor Zygmunt Bauman em sua obra Vidas desperdiçadas classifica os seres humanos que não conseguiram permanecer no carro da modernidade e que não conseguem se inserir no processo de globalização de “refugo humano”. A globalização é excludente, traiçoeira, eliminadora, causando morte, fome, desemprego e caos social para milhões de seres humanos.

É notável que o autor esteja bastante preocupado com a modernização da sociedade, pois a mesma é marcada cada vez mais pela exclusão, impondo novas exigências e qualificações no mundo do trabalho e a modernização desenfreada é produtora de dejetos, sujeiras e lixo humano que são jogados longe dos grandes centros urbanos e são colocados em grandes depósitos em terras inabitadas, sem qualquer tipo de organização, de política de reciclagem. Nosso planeta está cheio, afirma Bauman, está cheio porque a modernização se globalizou chegando a terras longínquas, penetrando nos costumes, na organização do modo de vida de povos que não se interessavam pela corrida ao progresso.

Os seres humanos que não conseguiram permanecer no carro da modernidade e que não conseguem se inserir no processo de globalização de “refugo humano”. A globalização é excludente, traiçoeira, eliminadora. Ela causa morte, fome, desemprego e caos para milhões de seres humanos.

Esses homens e mulheres não apenas perdem seus empregos, seus projetos, seus pontos de orientação, a confiança de terem controle de suas vidas, também se vêem despidos da sua dignidade como trabalhadores, da auto-estima, do sentimento de serem úteis e terem um social próprio. (p.22).

Neste viés, o autor descreve que a vida contemporânea é marcada por uma ideologia consumista e de puro individualismo e consequentemente é negado o sentido da solidariedade humana. Neste caminho singular do individualismo segue-se a produção de refugo humano e de lixo em maiores quantidades, haja visto a grande e inconsequente sociedade do consumismo, pois quem não consome torna-se refugo humano e o que é consumido torna-se em lixo, desejo ou sujeira.

Para o autor, o refugo humano (as pessoas) estão excluídas de tudo, a lei não os contempla, os governos não se responsabilizam por eles. Vive-se no caos e na ordem.

Os humilhados e excluídos do sistema, correspondem à maioria dos seres humanos existente na terra. Nesta linha tênue faz uma crônica acerca da mineração: é um túmulo de veios e poços repudiados e abandonados. A mineração é inconcebível sem o refugo, é uma condição permanente, a mineração gera o desemprego, a desigualdade, o despropósito, o (des) indica anomalia, anormalidade, lapso momentâneo.
Afirma o autor que para qualquer um que tenha sido excluído e marcado como refugo, não existem trilhas óbvias para retornar ao quadro dos integrantes.

Outrossim, traz uma esperança, a educação superior se torna condição mínima de esperança, embora duvidosa de uma chance de vida digna e segura, o que não significa uma viagem tranquila na vida contemporânea, também a classifica como privilégio de poucos.

Baumann afirma que o mundo globalizado prega por uma política de exclusão, de retirada de refugo. Cada país cuida de seu “lixo”, de sua população redundante retirando-a do convívio com os outros indivíduos úteis. A população redundante é a parte inútil, imprestável, que deve ser retirada de circulação, jogada em campos de refugiados. Para que isso aconteça, os países ignoram as leis internacionais, perpetuando a limpeza étnica e genocídios.

Por fim, o pensamento expressado pelo autor reflete a profunda preocupação surgida nos últimos anos em relação às consequências da globalização no mundo, o aumento da produção de lixo (refugo humano, lixo tradicional e industrial), o aumento da população mundial e o aumento das desigualdades continentais. Ele reflete ainda sobre a separação entre os ricos e os pobres, os europeus e os não-europeus, os países subdesenvolvidos (sul) e os desenvolvidos (norte), faz com que pensemos sobre o caos da globalização.

Concluo com a pergunta de SENNETT (2000), “Quem na sociedade precisa de mim”? se o mundo globalizado está em constante mineração, gerando desemprego, desigualdade, despropósito, anomalia, anormalidade e lapso momentâneo, cabe o individuo perguntar-se.

“quem precisa de mim” é uma questão e caráter que sofre um desafio radical no capitalismo moderno. O sistema irradia indiferença. Faz isso em termos dos resultados do esforço humano, como nos mercados em o vencedor leva tudo, onde há pouca relação entre risco e recompensa. Irradia indiferença na organização da falta de confiança, onde há motivo para ser necessário. E também na reengenharia das instituições, em que pessoas são tratadas como descartáveis. (p. 175).

O capitalismo e globalização mudam a trajetória de vida das pessoas, acabando com sonhos e projetos das pessoas que não conseguem embarcar no trem da modernidade, aumentando a produção de refugos e de lixo, neste cenário de mudanças drásticas Schwartzman (2004), define que a participação no mercado de trabalho é a principal forma de inclusão das pessoas nas sociedades modernas, e o ponto de partida de todas as análises sobre inclusão e exclusão social.

A sociedade mudou e o mundo está em constante transformação, mas neste calabouço não se pode deixar as pessoas de lado, não se pode aumentar as riquezas continentais sem traçar um paralelo com a devassa que a ganância do capitalismo proporciona nos quatro cantos do planeta terra.

É necessário agir, e com urgência, do contrário veremos um crescimento vertiginoso de pessoas fora do âmbito do trabalho, cada vez mais à margem social, isto é, expulsos do mercado de trabalho e fora da esteira do progresso do século XXI. A globalização é excludente, traiçoeira, eliminadora. Ela causa morte, fome, desemprego e caos para milhões de seres humanos, para Martins (2008), exclusão está na desumanização própria da sociedade contemporânea, que ou nos torna panfletários na mentalidade ou nos torna indiferentes em relação aos seus indícios visíveis no sorriso pálido dos que não têm um teto, não têm um trabalho e, sobretudo não têm esperança.

Ainda existe esperança! São necessárias ações conjuntas e um planejamento estratégico para combater as mazelas da esteira frenética do capitalismo, sigo e sou adepto a frase do autor Eric Hobsbawm, "Me recuso a dizer que perdi a esperança", o capitalismo chegou ao seu limite.

REFERÊNCIAS

BAUMANN, Zygmunt, VIDAS DESPERDIÇADAS, Rio de Janeiro, 2004, editora ZAHAR.

MARTINS, José de Souza, A SOCIEDADE VISTA DO ABISMO, NOVOS ESTUDOS SOBRE EXCLUSÃO, POBREZA E CLASSES SOCIAIS, Rio de Janeiro, 2008, editora Petrópolis, 3 ed.

SENNETT, Richard, A CORROSÃO DO CARÁTER, Rio de Janeiro, 2000, editora Record.

SCHWARTZMAN, Simon, AS CAUSAS DA POBREZA, Rio de Janeiro, 2004, editora FGV.

terça-feira, 22 de maio de 2012

VIDA A CRÉDITO: A SOCIEDADE DO CONSUMO E DOS PRAZERES MOMENTÂNEOS!

A globalização promove vários fenômenos, entre eles, o consumismo, o materialismo e, consequentemente, o capitalismo. Em pesquisas recentes, contatou-se que os jovens brasileiros têm sido os principais alvos do setor mercadológico, promovido pelo desenvolvimento de produtos atraentes e pelas provocantes campanhas publicitárias.

Na verdade, o consumo não está mais ligado à necessidade e, sim, à aparência. Cada vez mais, percebe-se a importância despendida aos bens materiais, ou seja, a priorização do ter ao ser.

Será que investir em Educação não seria mais prudente? Investir em educação e na formação de um cidadão mais consciente das suas necessidades reais.

O consumismo e o estimulo do governo é desregrado, exagerado, compras infindáveis são realizadas diariamente e isso demonstra um direcionamento oportunista que procura induzir as pessoas para a busca da felicidade, felicidade através da compra, prazeres momentâneos. Será que isso é felicidade?

Bauman afirma em seu livro a Vida a Crédito que o capitalismo é um sistema parasitário. Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento. Mas não pode fazer isso sem prejudicar o hospedeiro, destruindo assim, cedo ou tarde, as condições de sua prosperidade ou mesmo de sua sobrevivência.

É triste perceber que a única ação contra crise do Brasil seja estimular a compra de carros, presente, celulares, etc. Isso é uma estimulação para o aquecimento da economia ou uma estimulação ao endividamento da população. Cadê a preocupação com o Meio Ambiente e a saúde financeiras das famílias e dos jovens? Estimular as compras e não investir em Educação financeira da população. Que sociedade é esta que prefere comprar futilidades ao invés de ajudar o próximo.

Portanto, surge um alerta, pois o consumo desregrado aumenta o endividamento pessoal das famílias. Para Slomp (2008), o endividamento é um reflexo da sociedade de consumo e caracteriza-se como um problema de ordem social e não individual.

Neste sentido, o consumidor necessita de ajuda para não sucumbir em endividamento familiar. A educação tributária e fiscal é uma possível alternativa, uma vez que visa à formação plena do jovem, possível chefe de família. Isto é, um projeto direcionado ao jovem com o foco de conscientizá-lo do consumo, deixando-o distante do endividamento crônico que assola a sociedade brasileira.

Para Costa (2002), o endividamento crônico ou superendividamento é a impossibilidade global de o devedor pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas com o Fisco, oriundas de delitos e de alimentos). Para Martins (2007), o capitalismo na verdade desenraiza e brutaliza a todos, excluiu a todos. Na sociedade capitalista essa é uma regra estruturante: todos nós, em vários momentos de nossa vida, e diferentes modos, dolorosos ou não, fomos desenraizados e excluídos. É próprio dessa lógica de exclusão e inclusão. A sociedade capitalista desenraíza, exclui, para incluir, incluir de outro modo, segundo suas próprias regras, segundo sua própria lógica.

Assim posto, fico espantado e estarrecido quando percebo pessoas comprando por US$ 18.000 uma calcinha usada pela Elizabeth II. Por que razão? Veja no link a matéria: http://bit.ly/JubB5q

Enquanto isso, o jovem não consegue seguir seus estudos por falta de oportunidade, pessoas morrem por não terem alimento ou sequer água potável para beber. Que sociedade é esta? Será que esta pessoa que comprou a calcinha da Elizabeth II iria ajudar em um projeto social, projeto educacional, apoiar um fundo rotativo de bolsas, ser voluntária em alguma atividade, será?

Ao ler as obras de Bauman Modernidade Líquida, Vida para Consumo, Capitalismo Parasitário, Vidas Desperdiçadas e agora Vida a Crédito, fica a pergunta por quê e até quando? Quando vamos voltar a valorizar o SER e não o TER?

Nesta última obra de Bauman a sociedade contemporânea passou a focar no consumo desregrado, homens, mulheres, velhos e jovens, se transformaram em uma nova raça, raça de consumo/devedores. Tudo isso ameaça o bem social e ambiental da humanidade.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Emprego e empregabilidade: para o jovem!

Silva destaca (2002) que a chegada do século XXI vem marcada com algu-mas características: o mundo globalizado e a emergência de uma nova sociedade que se convencionou chamar de sociedade do conhecimento. Tal cenário traz inúmeras transformações em todos os setores da vida humana. Desta forma, Bauman (2008) afirma que a nova desigualdade global, fenômeno de desigualdade entre as nações é de origem recente, é um produto dos dois últimos séculos. É dessa época que vem a ideia do trabalho como fonte de riqueza (BAUMAN, 2008, p.30).

O mundo globalizado da sociedade do conhecimento trouxe mudanças significativas ao mundo do trabalho. O conceito de emprego está sendo substituído pelo de trabalho. A atividade produtiva passa a depender de conhecimentos, e o trabalhador deverá ser um sujeito criativo, crítico e pensante, preparado para agir e se adaptar rapidamente às mudanças dessa nova sociedade. O diploma passa a não significar necessariamente uma garantia de emprego.

Emprego e empregabilidade são palavras que assustam os trabalhadores, hora se consegue emprego, porém não se tem empregabilidade e com isso a pessoa tão logo estará desempregada.

Pupo (2006) comenta que para um profissional do mercado atual permaneça empregado, não pode mais depender somente do investimento feito pela empresa na capacitação do funcionário, ele deve buscar novos conhecimentos e alternativas para alicerçar seu trabalho, garantindo assim empregabilidade.

Já, para Krausz (1999), a garantia de emprego, embora ainda sonhada por muitos, é coisa do passado, reminiscência de uma era industrial em fase de extinção.

Para Bueno (1996) os indivíduos devem cuidar da empregabilidade em seus empregos, para continuarem empregados. Mas buscar novas oportunidades como a trabalhabilidade pode ser uma boa tática. O autor escreveu em seu livro, “Auto desenvolvimento para a empregabilidade”, os dez mandamentos da emprega-bilidade. Segundo o autor os mandamentos são: Nós definimos a empregabilidade como sendo a probabilidade de reinser-ção profissional no tecido formal do mercado de trabalho (...) É preciso chamar a atenção para a idéia de construção social da empregabilidade; ela decorre, de fato, da interação de estratégias (individuais e coletivas), tanto dos trabalhadores quanto dos empregadores. A empregabilidade é a condi-ção daquele que, apesar das mudanças no mundo do trabalho, continua apto para nele permanecer. Casali, Rios, Teixeira e, 1997, p.61).

A empregabilidade está relacionada à qualificação pessoal, as competências técnicas deverão estar associadas à capacidade de decisão, de adaptação a novas situações, de comunicação oral e escrita, de trabalho em equipe. O profissional será valorizado na medida da sua habilidade para estabelecer relações e de assumir liderança.

De acordo com Minarelli (1995) a empregabilidade é a capacidade de ade-quação do profissional às novas necessidades e dinâmica dos novos mercados de trabalho, gerando trabalho e renda permanentemente. Neste tocante, para ter empregabilidade é preciso estar afinado com as exigências das empresas.

Nota-se que a garantia da empregabilidade de uma pessoa é o conhecimento. E na sociedade do conhecimento, os indivíduos são fundamentais.

Para tanto, Druker (1997), alerta que o conhecimento moeda desta nova era não é impessoal como o dinheiro. “Conhecimento não reside em um livro, em um banco de dados, em um programa de software: estes contêm informações.” O conhecimento está sempre incorporado por uma pessoa, é transportado por uma pessoa, é criado, de associar a técnica com a aplicação de conhecimentos teóricos.

Na sociedade do conhecimento, Silva (2002) define que a educação no século XXI deverá ser uma educação ao longo da vida. Este conceito permite ordenar as diferentes sequências de aprendizagem (educação básica, secundária e superior), gerir as transições, diversificar os percursos, valorizando-os. A educação deverá se preocupar com a formação do cidadão, da pessoa em seu sentido amplo, e não somente com a formação profissional.